quarta-feira, 15 de agosto de 2012

“Caetano 70 anos na Black Soul Samba

Uma semana depois da data oficial do aniversário de um dos maiores astros da MPB, Rande Frank e banda, formada por Guibson Landin (guitarra e arranjos), Paulo Lavareda (baixo), Aritanã (percussão) e Willy Benitez (bateria), sobem ao palco do Palafita para o espetáculo “Caetano 70 anos”, prometendo sacudir as estruturas com um show dançante, trazendo músicas do lado A e do lado B, pra todo mundo curtir. Apoio da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves.

O repertório está repleto de todas as coras da Black Soul Samba, um trabalho à parte. Escolher entre tantas canções incríveis e sucessos inesquecíveis não foi nada fácil. O resultado a gente vê nesta sexta-feira, 17, a partir das 21h, no Palafita, na Cidade Velha. Apoio Fundação Cultural do ParáTancredo Neves. 

Ele tem 47 discos lançados, é fundador de um dos mais importantes movimentos culturais do século XX, o Tropicalista. Considerado um polemista e ativista cultural político, o baiano Caetano Veloso, leonino, músico, compositor, mas também cinéfilo, crítico, ator, é amado e odiado. É tudo isso e muito mais.

No último dia 7, o cantor completou 70 anos de vida e de quebra comemorou as quatro décadas de um de seus álbuns mais emblemáticos, o Transa. As celebrações são inúmeras em todo o planeta e não poderia ser diferente em Belém do Pará. 

“Traçamos um repertório que atendesse o padrão que tem a Black. Dançante, fizemos arranjos que deixassem tudo mais soul samba, menos canção. Então vão rolar coisas do tipo Tropicália e outros clássicos como Odara, Rapte Camaleoa, Tigresa, Beleza Pura. Não vai dar pra levar, por exemplo, Leãozinho”, diz Rande Frank, o vocalista da banda.

“Cobrimos a maioria dos 47 discos, mesmo assim, ficou muita coisa de fora. Acabei de sair do ensaio e claro que quase teve briga, todo mundo curte Caetano e queria dar o seu palpite”, explica ele que revela ainda outras canções que vai mandar no show, como a música bem lado B, “Eu quero esta mulher assim mesmo”, do não menos emblemático “Araçá Azul”.

Fã de carteirinha do cantor baiano, qualquer semelhança com Caetano Veloso, não é pura coincidência. Rande Frank também é ator, cantor e compositor, polemista, ciinéfilo etc e tal. E pra completar, ele nasceu no ano em que Caetano lançou “Transa”, em 1972. Sim, em 2012, Rande faz 40 anos, como o LP .

Participações - O show terá participações especiais, com Olivar Barreto, que vai cantar “Estrangeiro” e Patrícia Rabelo, que levará com Rande, “You don’t know me”, do Transa. Mas tem muito mais, avisa Rand Frank, que prefere deixar pra surpresa da hora. “Ninguém vai ficar parado, é um show feito pra dançar”, enfatiza. Ao todo são 21 músicas e quem sabe mais alguma canja, se bobar. 

E pra esquentar tudo, antes do show, estarão em cena os DJs residentes da Black Soul Samba: Fernando Wanzeler, Uirá Seidl,Eddie Pereira, Kauê Almeida, Homero da Cuíca, que vão garantir os melhores sets destas sete décadas de Caetanices. Rande Frank iniciou sua carreira musical na década de 90 cantando e tocando violão na noite paraense, com músicas sempre em português. 

Como vocalista, participou de diversas bandas, dentre elas, as extintas “Arcano 19”, “A Decrépita” e a mais recente “Xamã”. Produziu, gravou as vozes, e mixou 12 canções do compositor paraense Buscapé Blues e as apresentou ao vivo em shows intinerantes dentro de um ônibus-palco, que cruzou a capital carioca com a banda “Xuxu e As Kaveiras Barrocas”, com quem também se apresentou no Rock in Rio, no início dos anos 2000. 

Liderando os vocais da Banda “Xamã”, ele se popularizou com sua voz e performance marcantes, eletrizando as platéias roqueiras e a nascente tribo regueira que surgiu no fim de 2006 no cenário musical de Belém do Pará. 

Sempre Caetano - Ao lançar a canção-manifesto Tropicália, cantava orgulhoso: "eu organizo o movimento". Em parceria com Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa, estrelou o aclamado show Doces Bárbaros, que como toda grande obra de vanguarda, recebeu duras críticas após sua estreia.

Três décadas depois, o álbum homônimo é considerado um dos melhores trabalhos da história da música no Brasil. Ao completar 70 anos que Caetano Veloso em 2012, uma de suas primeiras ações, foi lançar, ainda em junho, um novo site http://www.caetanoveloso.com.br/ em parceria com a gravadora Universal, onde disponibiliza toda sua discografia. A obra está disponível para audição gratuita em streaming e o usuário pode comprar as canções individuais pela loja virtual da Apple.

 Há ainda um blog alimentado por Caetano, onde ele aproveita para postar seus pensamentos polêmicos: "Como me ensinou meu pai: pior do que um comunista é um anticomunista". Outra novidade acabou de chegar às lojas, em um CD com regravações nas vozes de artistas da nova safra da música nacional. Mariana Aydar interpreta Araçá Azul (1973); Marcelo Camelo empresta a voz a De Manhã (1965); e a cantora Céu dá um tom contemporâneo para a clássica Eclipse Oculto (1983), com produção de Fernando Catatau.

Disco quarentão - “Transa”, o quarentão, é um disco cantado em sua maior parte em inglês, consegue ser regional na mesma medida que o axé “A Luz de Tieta”, canção que faz parte da trilha sonora de um filme para lá de duvidoso de mesmo nome já nos anos 90. Aliás, o período londrino (foram dois anos e meio, entre 1969 e 1972) é mais uma reafirmação de baianidade que qualquer outra coisa. Gravado em quatro sessões com clima que transparece espontaneidade, Caetano foi auxiliado por Tutty Moreno (bateria), Áureo de Souza (bateria), Moacir Albuquerque (baixo) e Jards Macalé (guitarra). O inglês Ralph Mace, tecladista em “The Man Who Sould the World” (1970), um dos maiores clássicos de David Bowie, assinou a produção.

David Byrne – Uma grata surpresa para todos os fãs aconteceu no mês de março deste ano, com o lançamento do DVD "Live at Carnegie Hall", que traz Caetano Veloso e David Byrne. Não é de hoje que são amigos. Os dois já tinham tentado cantar juntos no VMB 2004, mas quando um monte de problemas técnicos aconteceu, Caetano saiu explosivo do palco, disparando uma série de palavrões em rede nacional. 

Mas desta vez não teve tempo ruim e o registro"Live at Carnegie Hall", traz entre as suas 18 faixas, hits de Caetano, como Leãozinho e Você é Linda e também músicas de Byrne, incluindo várias da época dos Talking Heads.

O exílio - Em maio de 1966, um ano antes de lançar Domingo, disco de estreia coassinado por ele e a amiga Gal Costa, Caetano defendeu a “retomada da linha evolutiva” da música brasileira, em entrevista à Revista Civilização Brasileira. O jovem, de 23 anos, apostava em uma radicalização da antropofagia ensaiada por seu mestre João Gilberto, que acrescentou à receita da bossa nova sofisticados maneirismos vocais e instrumentais do cool jazz americano. 

A ambiciosa meta foi atingida por Caetano no turbulento ano de 1968, com os novos rumos apontados pelo Tropicalismo, o movimento encabeçado por ele, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Nara Leão, Torquato Neto, Capinam, Rogério Duprat e a banda paulistana Os Mutantes (signatários do disco-manifesto Tropicalia ou Panis Et Circencis, de 1968). 

“Só voltem se forem autorizados”. Era 1968, quando os militares chegaram a sua casa e bastante claros quando despacharam a ele e Gilberto Gil para o exílio forçado. Sete meses antes disso, no dia 27 de dezembro de 1968, os dois haviam sido presos sem qualquer alegação plausível. Passaram por celas de diversos quartéis no Rio de Janeiro por dois meses. 

A licença para voltar a Salvador veio numa irônica quarta-feira de cinzas, como se houvesse algum motivo para Carnaval. Lá seriam mantidos mais 120 dias em regime de prisão domiciliar. O carimbo definitivo de persona non grata viria com o endurecimento promovido pelo Ato Institucional n° 5 (AI-5).

Duas apresentações em 20 e 21 de julho de 1969 na capital baiana (o célebre Barra 69) e o tropicalismo tomava um forte golpe abaixo da linha da cintura. O desterro causou em Caetano Veloso tanta agonia quanto vontade de valorizar aquilo que viveu na infância, que leu, ouviu e grudou na sua pele. Desenraizado, mergulhou de cabeça em um estado cinzento como a aparência de Londres na maioria do tempo. 

Serviço 
Rande Frank e banda na Black Soul. Samba. Quando: Sexta, 17 de agosto de 2012 – A partir das 21h. Quanto: R$10,00 – com meia-entrada para estudantes (em respeito à lei nacional da meia-entrada). Onde: No bar Palafita – Rua Siqueira Mendes, ao lado do Píer das 11 Janelas, na Cidade Velha. Apoio Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. Saiba mais: www.blacksoulsamba.blogspot.com. Fan Page: www.facebook.com/BlackSoulSamba. Twitter: @blacksoulsamba. Imprensa: (91) 8134.7719. Produção: (91) 8413 0861 / blacksoulsamba@yahoo.com.br. Escute a Black na rádio: Toda quarta, 21h, na Unama FM – 105,5. Reprise aos sábados, 22h.

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